VOX
POPULI, VOX DEI
A expressão, de origem latina, representa o
conhecido ditado comumente utilizado por grande parte das pessoas. “A voz do
povo é a voz de Deus”. Bom, se tudo que a massa falasse representasse a vontade
da divindade, ficaria difícil entender de que lado ela estaria. De certo (ao
menos no estudo teológico), a voz de Deus é representada pelas Escrituras, ou
seja, a Bíblia Sagrada. Mas não é essa a finalidade do texto, discutir
Teologia. O que pretendemos é ouvir e entender a voz que está ecoando pelos
quatro cantos do Brasil por meio das grandes mobilizações ocorridas em diversas
cidades nos últimos dias. É fato que algumas dessas manifestações se tornaram
uma verdadeira farândula com baderneiros e arruaceiros gritando palavras de
ordem, quando não passam de vândalos, anarquistas. Mas eu ouço uma voz... e a
voz que ouço não ecoa nos telejornais. Não é a politicamente correta das
autoridades elogiando o movimento, mas, se roendo de raiva por dentro. Aqui pra
nós, Sérgio Cabral, Addad, Dilma e outros parabenizando a juventude pela
iniciativa de denunciá-los ao mundo inteiro? Só podem estar de brincadeira. Se
pudessem e não gerasse repercussão internacional em plena Copa das
Confederações, mandariam a tropa de choque descer porrada em tudo mundo, e olhe
lá se ficaria apenas nisso. A voz que ouço não é a da Rede Globo, que a
princípio denegria a mobilização, mas que, com medo de represália, se fez
amiguinha do mesmo. A emissora, não tendo mais o que inventar, atrelou um caráter
de luta contra a homofobia ao movimento. Tudo bem que outras frentes estão se
mobilizando nesse sentido, mas somente a Globo pra destacar esse tema e colocá-lo
como bandeira aditiva nessas manifestações. A voz que ecoa para mim, não é a de
alguns que por receio de irem às ruas ficam escrevendo em seus escritórios
climatizados textos que tentam limitar a causa a um reajuste de 20 centavos nas
passagens de ônibus de São Paulo. Na verdade, se fosse causa de ordem financeira,
a reclamação se daria pelos quase 750 bilhões que já foram arrecadados de
impostos somente esse ano (http://www.impostometro.com.br/). Ou quem sabe ainda pelo montante de 1 trilhão e 500
milhões de reais arrecadados em 2012. E com tanto imposto, pergunto: A educação
pública avançou? A segurança nas ruas melhorou? Os HGE’s atendem satisfatoriamente
a população? Claro que não, né!?! Como diria o sábio e filósofo Ronaldo
Fenômeno, “Copa não se faz com hospital”. Esses míseros 20 centavos
representaram o protesto contra o salário exorbitante, por exemplo, de vereadores
e de deputados em nosso país. A propósito, seria interessante que os caros
legisladores passassem a ganhar por produção. Isso mesmo, se cada projeto
criado (não apenas aprovado) e cada denúncia apurada valessem, por exemplo, 100
reais. Pronto, acredito que assim a coisa ficaria mais justa.
A voz que ouço nesses protestos é a voz de Martin Luter
King quando dizia: O que me preocupa
não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
Ouço a voz de Paulo
Freire quando afirmava que seu sonho era ver o protesto nas ruas dos sem terra,
sem educação, sem saúde e sem tudo aquilo que o Estado lhe furta.
A voz que ouço contraria a de uma porção de
educadores (ou professores mesmo) que ao ter seus direitos renegados simplesmente
dizem: “É assim mesmo, se falar é pior, melhor se contentar com pouco do que
com nada”. Paulo Freire costumava dizer que “Nada é assim mesmo. Tudo e passivo
a ser modificado”. Mas não foi assim que fomos educados? Menino, cale a boca!
(em casa, na escola, na igreja, etc). Assim crescemos, de boca calada. Afinal,
como advertem os opressores: “boca fechada não entra mosquito”. Fomos orientados
a calar, silenciar. Quando alguém ousa romper com esse estereótipo, ou seja,
não silenciar espontaneamente, os repressores dão um jeitinho de silencia-lo.
Sabe qual foi a estratégia dos governos do Rio e de São Paulo? Reduzir o preço
das passagens, ou seja, retirar os 20 centavos. Pronto, resolvemos o problema.
Agora podem ira pra casa, voltar ao labor diário. Sua reivindicação foi
atendida! Se isso acontecer, então todos concluirão que tudo não passou de
tempestade em copo d’água.
Dentro
dessa multidão que está na rua, existe um povo que faz jus ao ditado. Sua causa
representa a Vox Dei. Eles têm sede e
fome de justiça. Lutam para que seus semelhantes sejam tratados com dignidade
por sua “Pátria Amada, Idolatrada...”
Para que esta “Mãe Gentil” nunca
serre os punhos quando os “Filhos desse solo” clamar por socorro. A voz que
ecoa aos meus ouvidos é a de Joaquim Osório Duque
Estrada quando magistralmente previu essas e tantas outras mobilizações
da história do Brasil e falou dos Filhos à Mãe Gentil, garantindo-a que “um filho teu não foge a luta”.
Com isso, sou obrigado a concordar (anda que em parte) que,
a “Voz do povo é a voz de Deus”.
Wallace Gabriel