quarta-feira, 4 de abril de 2012


ELEIÇÕES TODO DIA!

Não faz muito tempo que assisti a um vídeo que trazia uma reflexão importante sobre o natal. Nele, entre outras questões importantes, o autor questionava e ao mesmo tempo desejava o seguinte:

Se a gente é capaz de espalhar alegria
Se a gente é capaz de toda essa magia
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia

Bom, sem dúvida alguma o clima natalino influencia no comportamento das pessoas. Elas ficam mais emotivas, reflexivas, bondosas...É verdade que no mês seguinte ao do natal, com a chegada dos impostos, material escolar e das faturas do cartão de crédito a gente entende que não seria tão bom, pois imagine se gastos procedentes das festas natalinas acontecessem todos os dias.
Mas o motivo dessas considerações iniciais se deu por meio de outra reflexão, essa não diz respeito ao Natal, mas as eleições. Se eu tivesse jeito pra coisa falaria do assunto dando a esse o seguinte tema: Que bom se houvesse eleições todo dia! Pois é. Os políticos nas ruas sorrindo para todo mundo, andando nas periferias e beijando crianças piolhentas e seus pais com desodorante vencidos. Deixando suas “picapes” de cabine dupla para andar a pé... Quanta bondade e desprendimento podemos notar neles às vésperas das eleições. Conversando com um colega professor ele me falou de um repente intitulado “carona de candidato”, de Zé Laurentino da Paraíba, que gostaria de compartilhar esta obra prima tão realista com vocês:

CARONA DE CANDIDATO

Meu compadre Severino me apresentou certo dia ao doutor Zeferino
E este, muito grã-fino, tratou-me dentro das normas
Apertou a minha mão e disse "Satisfação",
Eu disse "Da mesma forma"
Depois me deu seu cartão, o retrato, o endereço...
Eu disse "Assim não mereço!",
Disse ele "Faço questão"

Ainda me perguntou onde era minha casa
Eu lhe respondi "Num sítio, doutor, muito pra lá da Ceasa"
Ele acendeu o cigarro e disse "Entre no meu carro, comigo ninguém se atrasa"

Quando ele disse aquilo, meu coração deu um salto
Eu já ando desconfiado com essa onda de assalto
Mas depois pensei comigo que aquele cidadão 
Não podia ser ladrão, afinal era um doutor
Quando eu vi o carro novo e o toca-fitas tocando,
Comigo fiquei pensando "Isso é um conquistador"

Pensei nas minhas meninas, pensei também na mulher
Mas depois pensei comigo "Seja lá o que Deus quiser"
Entrei no carro do homem e o homem empurrou o pé
Ô carro novo danado, ô homem conversador!
Eu chega tava acanhado pra conversar com o doutor

Foi me deixar lá em casa, subindo ladeira e grota
Ao meu guri mais novo ainda deu uma nota
Cumprimentou com respeito minhas filhas e a mulher
E aceitou com muito gosto "cuscuz de mi" com café
Depois que ele saiu fiquei de braço cruzado
Pensando comigo mesmo "Ô cidadão educado"

Daquele dia pra cá, onde o homem me encontrava
Ainda que fosse correndo, quando me via parava
Abria a porta do carro, mandava entrar e eu entrava
E se estivesse bebendo com uma turma de amigos
Deixava os amigos lá e vinha falar comigo

Um dia, fui lá no bar perto da banca de jogo
E lá estava o doutor, bebendo, puxando fogo
Quando ele me avistou veio logo pro meu lado
Dizendo "Vamos beber comigo no 'reservado'?"
Aí eu pensei comigo, já meio desconfiado
"Ou esse doutor é santo ou pensa que eu sou viado"

Mas aí olhei o homem desde riba até embaixo
E eu vi que ele tinha jeito de um cara muito macho
E eu também não levo jeito pra certas coisas, patrão
E finalmente eu aceitei entrar com o cidadão
Ele sentou-se numa mesa, do seu lado eu me sentei
Olhou bem na minha cara, na sua cara eu olhei
Ele chamou o garçom e falou assim:
- Garçom, traga por favor uma dose dupla de Gim
Aí eu disse "Seu moço, traz uma cana pra mim..."

Aí foi que o garçom saiu, esperto que só raposa
Foi quando o homem me disse "Vou lhe pedir uma coisa"
Eu disse "Pode pedir, não precisa se acanhar,
não sendo o que tô pensando, poderia até lhe dar"
O homem sorriu e foi me dizendo 
"Eu noto você meio desconfiado se pro seu lado eu me boto.

Eu só quero de você e da família é o voto!"
"É que eu sou candidato, quero ser vereador.
Pra ajudar essa pobreza, esse povo sofredor"
Aí eu disse: "Doutor, eu voto em Maçaranduba, minha mãe em Cabrobró,
Minha mulher em Natuba, minhas filhas em Cochichola e papai lá em Pipirituba.
Então por esse motivo não vou votar no senhor..."

Quando olhei para o homem tava mudado de cor.
Não disse uma nem duas. Não falou e não sorriu. 
Puxou do bolso a carteira, pagou a conta e saiu.

Daquele dia pra cá, eu confesso a vocês, meu povo
Nunca mais eu tive direito de andar num carro novo..
.

Bom, acredito que qualquer semelhança não é mera coincidência. Em breve falarei mais sobre o assunto. Agora foi só para instigar sua criticidade. Veja abaixo esse repente interpretado por Amazan.


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